11 de fevereiro de 2011

Bipolaridade: uma doença que afeta os relacionamentos. Dicas de como lidar.



Gente, esta doença é mais comum do que imaginamos. “Fuçando” a internet achei um blog muito bom: http://www.bipolarbrasil.net/search/label/relatos. Tem muitas dicas, informações, relatos etc. Se você é um bipolar ou conhece alguém que seja, entre neste blog. Se conhece alguém que muda radicalmente de humor, de uma alegria contagiante a uma irritação agressiva, tem muitas idéias novas e excitantes, muda de opinião em segundos, briga e depois vem como se nada tivesse acontecido... tudo isso muito intenso. Então não perca tempo. Leia os artigos abaixo e entre nos links que indiquei. Tem tratamento...

Veja este artigo do Enio Rodrigo, que encontrei lá no site da UOL:


Transtorno Bipolar: um problema que afeta os relacionamentos

“Parceiros ansiosos e irritáveis, com foco no imediato e que sofrem com seus atos impulsivos. Um ciclo que passa pela depressão de maneira prolongada, pela culpa projetada em terceiros e finalmente na reincidência do mesmo tipo de comportamento. Esse tipo de rotina pode ser indício do transtorno bipolar, mas na grande maioria das vezes é difícil de ser diagnosticado.

Ao contrário da ideia geral de que os indivíduos bipolares convivem apenas com picos de irritabilidade e depressão, o transtorno pode muitas vezes passar despercebido e ser considerado característica da personalidade. O que poucas pessoas sabem é que o transtorno bipolar pode ter ciclos curtos – até mesmo diários – e que os sintomas não necessariamente são distintos: hipomanias, irritabilidade, ansiedade e depressão podem conviver conjuntamente, o que dificulta até mesmo o trabalho dos profissionais de saúde mental para identificar o problema.

“É bom ter em mente que o transtorno bipolar pode ser dividido em dois tipos: o tipo I, que é o mais raro, e onde os ciclos são bastante nítidos e em determinado momento os cônjuges, amigos ou familiares acabam indicando o tratamento para o indivíduo”, explica Doris Hupfeld Moreno, médica psiquiatra, especialista do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora ligada ao Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (Gruda) no mesmo instituto.

“Já o que chamamos de tipo II é mais leve nos períodos mais ativos e acelerados – ou euforias – que caracterizam as hipomanias. À diferença da depressão, não são percebidas como problemáticas – pelo contrário, a pessoa acha que está muito bem –, e nem sempre são facilmente identificado por pessoas próximas. frequentemente são tidas como ‘da pessoa’, ou seja, fazendo parte da personalidade dela e, portanto, normal”, completa. Vale ter em mente que as depressões nos tipos I ou II são igualmente leves, moderadas ou graves e são o tipo de episódio que mais predomina durante a vida.

De acordo com a pesquisadora, nos indivíduos com transtorno bipolar os sintomas de ambos os pólos podem ser superpostos, – aceleração com ativação e depressão combinadas, por exemplo, podem gerar um sentimento de desespero, angústia e desassossego – e mesmo os estados de hipomania podem se traduzir em impulsividade aumentada para compras, libido, ou ficar obstinado com alguém ou alguma coisa, pensando demais naquilo, sem sair da cabeça, com atitudes compulsivas. Isso tudo muitas vezes é visto pelas outras pessoas, incluindo cônjuges, como “pequenas manias”, e por definição, não trazem conseqüências significativas. Se houver grande impacto na vida, trata-se de mania e não mais de hipomania.

“Mas se entendermos que essas pessoas, na verdade, estão vivendo com uma percepção alterada da realidade, é possível que percebamos onde está o perigo disso tudo. Os indivíduos bipolares acabam convivendo com esse atropelo de pensamentos. Estão sempre acelerados – seja focando as coisas de uma forma muito positiva ou muito negativa – e são impulsivos nas suas atitudes. Pensamentos grandiosos fazem parte do quadro clínico e acabam muitas vezes achando que sempre têm razão, são mais inteligentes, são melhores, etc, e se imaginam superiores em alguns ou muitos aspectos, aponta Doris Hupfeld.

Nesse ponto, diz a especialista, é difícil até mesmo convencer esses indivíduos a procurarem ajuda, pois eles também justificam suas atitudes de forma bastante lógica. E como as alterações entre os humores podem ser rápidas – acordar com sentimentos depressivos e ter dificuldades para dormir por não conseguir desligar dos pensamentos ou sempre encontrar nova atividade, por exemplo – tanto os amigos como os parceiros não conseguem definir exatamente o que acontece.

Fato é, que geralmente ocorre uma irritabilidade, uma impaciência, uma pressa – o chamado “pavio-curto” – que costuma não ser identificado pelo paciente e que gera um desgaste contínuo. O parceiro não sabe como encontrará o paciente, se querendo se isolar, cansado e desanimado, se de bem com a vida ou dificultando tudo e encrencando com detalhes, ou ainda estourando. O pior é que o bipolar sempre responsabiliza outros ou condições da vida pelos que lhe acontece.

“Esse otimismo exagerado, esse efeito de ter ideias novas o tempo todo – e de ter resolvido algum problema de forma melhor que os outros – também são acompanhados pelo hábito de achar que a culpa por uma determinada falha nos seus planos foi devido a erros de terceiros: alguém errou, o mercado não estava preparado para a qualidade de determinado serviço, a crise econômica aconteceu. Nunca é culpa dele”, afirma a psiquiatra e pesquisadora. Enio – cortar o que está repetido

Desgaste
Mas esse tipo de oscilação causada pelo transtorno leva a um desgaste. Em especial ao desgaste da relação com o cônjuge. Se em algum momento esse comportamento é visto como algo da personalidade da pessoa, aos poucos os ciclos se tornam claros. Mas pode acontecer o contrário – inicialmente os ciclos serem espaçados e bem definidos e com o passar dos anos se tornarem mais constantes e contínuos.
As obstinações, antes vistas como sinônimo de determinação, tornam-se claramente desproporcionais. O sentimento de perseguição e de desconfiança – que muitas vezes acompanham o transtorno – costumam se refletir na família do parceiro ou parceira. Círculos de amizade podem ficar comprometidos e o isolamento social, em determinados períodos, pode trazer grande sofrimento. “Esse comportamento é comum a todos os bipolares: a sensibilidade exagerada aos acontecimentos, ao estresse, ao que se diz e à opinião alheia e, consequentemente, ao isolamento.”
É nesse ponto que as “pequenas manias” se mostram incapacitantes. “A hipomania pode, claro, se refletir em outros tipos de comportamento que parecem saudáveis, como obstinação por exercícios físicos ou então, como dissemos, compras. Mas existem outros tipos de comportamentos que trazem grande sofrimento. Da mesma forma que os humores se alteram, a libido também pode ficar aumentada. Isso pode levar a traições ou comportamento sexual de risco, por exemplo”, exemplifica Doris Hupfeld.
Outro comportamento que leva a grandes sofrimentos para a relação é o abuso de álcool e drogas. “Essas pessoas com transtorno bipolar acabam usando o álcool e as drogas como um meio de ‘se soltarem’, encontrar a descontração no meio de uma alteração negativa do humor. Mas o polo inverso é a euforia ou mesmo comportamentos violentos, irritabilidade”, pontua a especialista.

Tratamento
O início do tratamento desses indivíduos se dá, usualmente, quando os sintomas da depressão são preponderantes. Durante o período de hipomania, o trabalho de convencimento é mais complicado.
“Um cônjuge, para tentar convencer o parceiro a iniciar o tratamento, tem de passar por um processo longo e muitas vezes fazer um trabalho de aproximação de profissional e paciente. E mantê-los em tratamento também é complicado, pois ao menor sinal de melhora, eles podem abandonar o tratamento”, afirma Doris.

A especialista lembra também que quando se fala de tratamento, duas questões são especialmente complicadas. Primeiro, quando a visita ao psicólogo ou psiquiatra se inicia no período depressivo, muitas vezes o quadro de transtorno bipolar não é identificado. Isso pode levar a tratamentos medicamentosos baseados em antidepressivos. Esse tipo de confusão acaba levando a quadros de euforia ou grave irritabilidade. Por isso é preciso muita atenção.

Uma segunda questão levantada pela especialista e pesquisadora é sobre a interrupção do tratamento para o transtorno bipolar de forma muito brusca, por abandono do paciente ou por condições como a gravidez.
“Observamos também que muitos pacientes que passam por esse período de mania ou hipomania muitas vezes demonstram uma perda da sensibilidade e de sentimentos, uma superficialidade e frieza nas relações antes amorosas e de carinho. Há um distanciamento interior, por mais que os sentimentos exaferados e patológicos estejam à flor da pele. Precisa ficar claro que os sintomas levam a uma perda de liberdade intensos, pois eles são determinados pela doença, não mais pela sua vontade”, explica Doris Hupfeld.

A surpresa fica por conta do contraste desse tipo de comportamento com a ideia geral de que o tratamento medicamentoso é que poderia “mudar a personalidade”. “A medicação não muda a personalidade de ninguém. Ela ajuda as pessoas a deixarem de pensar de modo distorcido, por meio de uma lógica alterada pelo transtorno. É comum os pacientes reavaliarem seus comportamentos após algum tempo do início das consultas à medida que os medicamentos fazem efeito, e passarem a agir de forma mais centrada”, explica a psiquiatra.

O perigo, então, estaria em interromper um processo que ajuda no equilíbrio do indivíduo, pois isso poderia contribuir para que o transtorno tome outros contornos e que o tratamento, que já é um processo difícil de ser iniciado, se torne ainda mais distante do paciente e que possa trazer mais sofrimento para o cônjuge e para sua família.
-
por Enio Rodrigo


 
Gostei também deste do Luis Filipe Barboza que está no site O Globo:

Deprimido agora e, de uma hora para outra, eufórico? Você pode ter transtorno bipolar
Luiz Filipe Barboza - O Globo Online

RIO - Sabe aquela pessoa temperamental, que muda de humor de uma hora para outra e costuma alternar momentos de euforia, agressividade e abatimento, e que normalmente a gente classifica como "difícil"? Esse comportamento, que à primeira vista pode parecer apenas capricho de alguém de "gênio forte", muitas vezes é a ponta de um iceberg chamado transtorno bipolar . Uma doença milenar que já foi chamada de psicose maníaco-depressiva e costuma causar muitos problemas a pacientes e familiares. São freqüentes as crises de depressão. Seguidas ou precedidas por fases de mania em que a pessoa pode desde torrar todo o dinheiro comprando coisas desnecessárias até sair por aí, sem destino certo, apenas pelo prazer do risco e da aventura, ou mesmo sofrer alucinações. O perigo mais grave é o da morte: os índices de suicídio são altos e variam de 6% a 20% entre bipolares ( veja outros números sobre a doença ). A falta de informação, alertam os psiquiatras, é a grande vilã da história: muita gente convive anos com a doença sem saber que ela existe, enfrentando rótulos equivocados e tratamentos inadequados (faça o teste: você é bipolar? ).
- Para 40% dos bipolares, o tempo médio entre o primeiro sintoma e o diagnóstico correto é de dez anos - diz o psiquiatra Olavo de Campos Pinto Jr, um dos maiores especialistas no assunto no Brasil.

Outro psiquiatra, Diogo Lara, radicado no Rio Grande Sul e autor do livro "Temperamento Forte e Bipolaridade, dominando os altos e baixos do humor", considera tão importante conscientizar as pessoas que defende até a realização de uma campanha de saúde pública.
- Seis por cento da população têm algum tipo de bipolaridade. São pessoas que sofrem e fazem seus familiares sofrer com distúrbios de humor e com comportamentos de risco, que expõem a própria vida e a de outros a perigo. A maioria é tratada de maneira errada ou vai buscar tratamento muito tarde - destaca. - É muito melhor desconfiar e não ser um bipolar do que nunca desconfiar de que tem a doença e passar anos sofrendo com as conseqüências dela.

Saudade de 'parte boa'
A jornalista Marina W. (foto), pseudônimo de Maria Adriana Rezende, descobriu ser bipolar depois de dez anos convivendo com crises de depressão e ataques de euforia. E resolveu compartilhar sua experiência: primeiro num blog ( www.blowg.pixelzine.com), depois num livro, lançado recentemente pela editora Nova Fronteira ("Não Sou Uma Só: Diário de Uma Biplar"). Escrito de maneira simples e em ritmo de romance, o texto relata os altos e baixos da vida de uma pessoa com transtorno bipolar. Marina sofria do que chama de depressão passiva, ficava deitada na cama, escondida embaixo do cobertor, sem ânimo para nada, sem motivo algum aparente. Quando não estava deprimida, passava pela hipomania: sentia-se acelerada, capaz de mil realizações ao mesmo tempo, vivia com necessidade de grandes emoções.

- A hipomania é um estado que todo mundo deveria experimentar, te deixa de um jeito que todo mundo deveria ser. Você se sente auto-confiante, se sente sedutora, se sente interessante. Mas a mania não tem limites, você faz coisas sem noção do que faz. E rola arrependimento depois - explica.

Tratada e medicada, Marina, há quatro anos sem padecer com os sintomas da doença, é hoje uma bipolar controlada, já que a cura total não existe. No livro ela relata, sobre a depressão: "Espero nunca mais ter que me esconder debaixo de um cobertor". Mas ao repórter do GLOBO ONLINE confessa ter saudade "da parte boa" da bipolaridade:
- Você se sente muito auto-confiante quando está na hipomania. Sinto saudade disso. Não me apaixono mais como me apaixonava. As paixões que tive eram todas platônicas, eu não precisava ficar com a pessoa, bastava sentir. Mas era muito bom sentir.

A aposentada carioca V, 65 anos, moradora da Barra da Tijuca, convive com a doença há muito tempo, desde os 30 anos, quando estudava Psicologia. Já precisou tomar eletrochoque e hoje tem a bipolaridade controlada à base de lítio. Ela conta que ser bipolar atrapalhou sua vida profissional e, também, seus relacionamentos afetivos. Embora em 70% dos casos a bipolaridade seja hereditária, a história de vida também pesa. Na opinião da própria V, o fato de ser filha ilegítima e ter sido criada por uma madrinha repressora ajudou a doença a se desenvolver. Quando em depressão, conta V., ela sentia muita vontade de dormir e não queria ver ninguém. Mas, assim como Marina, diz que o estado de euforia a transformava:

- Quando está em crise, você se acha numa boa, tem delírios. Eu ficava desinibida e fazia coisas que jamais faria. Parece, na sua cabeça, que você será capaz de resolver sozinha todos os seus problemas.

Aceleração paralisante
Olavo, o psiquiatra de Marina, conta que quando iniciaram o tratamento ele perguntou exatamente isso à cliente: se estava disposta a abrir mão da euforia.

- A depressão ninguém gosta de sentir, claro, porque deixa a pessoa no fundo do poço, com a auto-estima baixa, e este é um dos aspectos mais cruéis da bipolaridade. Já a euforia tem um lado muito agradável e sedutor: a pessoa se sente sociável, interessante, cheia de energia e sempre disposta a empreender novas ações. Mas isso também precisa ser tratado, porque a alegria é química e ocorre sem o controle da pessoa. E pode ter efeitos devastadores. A maioria, porém, só se considera doente se estiver em depressão - afirma.

No "Diário de Uma Bipolar", Marina W. cita o próprio doutor Olavo, numa explicação que ele lhe deu no consultório: "A aceleração pode ser tão paralisante quanto a depressão. Se eu pegar um trem para passear e ele não sair do lugar, não vou ver nada. Isso seria depressão. Mas se eu pegar o trem e ele correr a 220 por hora, também não vou ver nada. É como se estivesse parado na estação. Fiz o percurso todo, mas foi muito rápido. Então não consegui metabolizar nada. O meio-termo é necessário", resume o especialista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário